Casos de sífilis dispararam nos últimos anos no Brasil; como se prevenir?DSTs aumentam nos EUA durante a pandemia, informa CDC
Caso o achado seja confirmado, será o registro mais velho da doença em todo o continente americano. Os cientistas da Universidade de São Paulo (USP) responsáveis pela pesquisa encontraram os ossos no local conhecido como Lapa do Santo, um afloramento de rocha provinciano. O caso mineiro ocorreu há, no mínimo, 9.500 anos, e a ocorrência mais antiga, até agora, foi em um adulto de 3.500 anos atrás.
Sífilis nas Américas
A sífilis é um curioso caso de inversão da lógica epidemiológica nas Américas. A partir da chegada dos europeus no continente, os indígenas locais sofreram com uma infinidade de doenças para as quais não tinham anticorpos, como malária, varíola e sarampo, que ceifaram vidas aos milhares. Na Europa, os surtos de sífilis só começaram na época das viagens de Cristóvão Colombo, indicando que os europeus, desta vez, foram os infectados por uma doença mais comum aos indígenas. A transmissão da doença ocorre de forma sexual, causada pela bactéria Treponema pallidum, começando com lesões genitais e afetando o sistema nervoso e pele em períodos posteriores, podendo gerar derrames e paralisia. Congenitamente, a mãe também pode acabar passando a doença para o feto. Junto à sífilis, há outras doenças causadas por bactérias do mesmo gênero, as treponematoses, que estavam presentes nos indígenas milhares de anos antes da chegada dos europeus — o que descobrimos graças à arqueologia. Com os surtos europeus tendo iniciados apenas nos séculos XV e XVI e evidências como as dos restos mortais mineiros, fica inegável que os marinheiros do Velho Mundo levaram a sífilis para seu continente. Ainda não sabemos, no entanto, se os indígenas já trouxeram a condição nas migrações de 15 mil anos atrás, quando chegaram às Américas, ou se a doença surgiu por aqui após sua chegada. Caso tenha sido trazida, há possibilidades de que o surgimento ocorreu na Ásia ou África. A sífilis é a única entre os parentes a ser transmitida de forma congênita, reduzindo as possibilidades de transmissão. As deformidades ósseas do bebê encontrado já começaram desde a gestação, o que é refletido na má formação do crânio, dentes e membros. É possível ver, por exemplo, um “nariz em sela”, já que as cartilagens do local são afetadas e deixam uma aparência côncava ou afundada no alto do nariz. Lesões no fêmur esquerdo demonstram que a criança caminhava com dificuldade, e os ossos do crânio se fundiram muito cedo, atrapalhando o desenvolvimento do cérebro e aumentando a pressão craniana e os riscos de AVC, bem como outros problemas cerebrais. É uma das possibilidades aventadas para a morte do infante. Fonte: International Journal of Osteoarcheology