Intel bate recorde de receita apesar de queda na divisão de chips em 2021Intel promete US$ 20 bi em novas fábricas para voltar a ser líder em chips

Não é que uma onda de benevolência tenha atingido a Intel. O que a nova direção percebeu é que, para voltar a ocupar uma posição dominante no mercado, a companhia deve olhar para além do próprio quintal. Essa postura é importante para o enfrentamento de uma das suas principais concorrentes: a Arm.

Olha aí a oportunidade

Talvez você se lembre que, há alguns anos, a Intel fabricou chips para celulares e tablets. Mas, em 2016, a companhia desistiu desse segmento. Houve mais de uma razão para isso, mas a principal delas é o fato de que os chips da marca não conseguiam ter o desempenho das unidades baseadas em arquitetura Arm, principalmente no quesito eficiência energética. Como consequência, a Intel teve que assistir a companhias como Qualcomm, MediaTek e Samsung (todas com chips baseados em arquitetura Arm) assumirem o mercado de dispositivos móveis. Enquanto isso, a Intel direcionou os seus esforços ao que faz de melhor: processadores para PCs e servidores. Mas as tecnologias da Arm não encontram espaço apenas em dispositivos móveis. A chegada dos processadores Apple M1 provou que a arquitetura Arm pode combinar alto desempenho no processamento com eficiência energética em computadores, por exemplo. Sob o olhar atento de Gelsinger, a Intel vem reagindo ao novo cenário, primeiro pelo caminho mais óbvio — o aperfeiçoamento de seus chips com arquitetura x86 (ou a promessa de); depois com a abertura para outras tecnologias. Isso explica o mais recente anúncio da companhia: a criação de um fundo de US$ 1 bilhão para investir tanto em startups recém-criadas quanto em empresas estabelecidas que trabalham com tecnologias para semicondutores, incluindo o padrão RISC-V.

Mas o que é RISC-V?

Paralelamente ao anúncio do fundo de US$ 1 bilhão criado pela Intel, a RISC-V International deu as boas-vindas à companhia ao seu conselho de administração e à sua comunidade de desenvolvimento. Mas o que vem a ser RISC-V? Esse é o nome da quinta versão de uma arquitetura de conjunto de instruções (ISA, na sigla em inglês) para chips chamada Reduced Instruction Set Computing. Ao contrário de outras ISAs, como Arm e x86, a RISC-V é um projeto de código aberto, razão pela qual a sua implementação pelos fabricantes não exige o pagamento de taxas de licenciamento. A RISC-V foi introduzida em 2010 e, para que possa ser mantida como um projeto consistente, seguro e atraente até para fins comerciais, vem sendo administrada por uma organização dedicada: a RISC-V International, da qual a Intel agora faz parte, como você já sabe.

RISC-V combina com a nova fase da Intel

Até um passado recente, seria difícil imaginar a Intel dando espaço à RISC-V. Mas, como o Ars Technica bem aponta, existe uma janela de oportunidade aqui, pois chips baseados em RISC-V tendem a ser menores e, eventualmente, mais baratos do que aqueles que trazem tecnologia Arm. É verdade que chips RISC-V não podem enfrentar a arquitetura Arm no mercado de celulares — pelo menos não na atual fase —, mas a Intel já se conformou com isso, aparentemente. Por outro lado, a arquitetura RISC-V pode ajudar a companhia a conquistar espaço em segmentos tão ou mais promissores, a exemplo de chips para sistemas embarcados (para carros, indústrias, sistemas hospitalares e assim por diante). Não dá para afirmar se veremos novos chips RISC-V com a marca da Intel em um futuro próximo, até porque, pelo menos inicialmente, o foco da companhia estará em apoiar a expansão do ecossistema RISC-V e o seu aprimoramento tecnológico. De todo modo, a Intel já tem produtos baseados em RISC-V: os chips programáveis Nios V. Por ora, o que mais importa é a percepção de que a abertura ao padrão RISC-V condiz com a atual e nova fase da Intel, que inclui o anúncio de novas fábricas, planos de produzir chips para terceiros e o iminente lançamento de placas de vídeo dedicadas. Existe mesmo uma Intel antes e outra depois de Pat Gelsinger.

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